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sexta-feira, 12 de março de 2010

A visão da direita sobre a esquerda


Caros leitores,

Segue, em anexo a este breve comentário, um texto de Olavo de Carvalho - de discutível qualidade -, no qual expõe sua visão ímpar sobre a esquerda confundida com comunismo e ditadura. Reduzir a esquerda ao comunismo, ainda que tal regime político-econômico seja louvável se construído democraticamente, representa cometer um ato de injustiça com a própria história de constituição da esquerda e com suas premissas, muito maiores (o comunismo está contido na esquerda, mas a recíproca não é verídica). Tal recurso retórico, ainda que de extrema eficiência - pois toca o imaginário popular no que se refere à propaganda maliciosa veiculada contra o comunismo no regime militar - apenas pode gerar simpatia aos que pouco conhecem da história, particularmente, do Brasil ou que possuam interesses pessoais protegidos por tais discursos. Os males atribuidos à conduta comunista - ou esquerda, como se equivocam alguns - podem, facilmente, ser extendidos à direita. Há, ainda, que se separar o comunismo do comunista, a idéia do praticante. Discutir o comunismo pressupõe entender suas bases ideológicas e não, meramente, identificá-las com atos de violência decorrentes da reação contra a opressão. A violência observada por Carvalho na identificação da esquerda - que ele reduz ao comunismo, tratando por igual coisas diferentes - representa mera reação a outro tipo de violência não considerada por ele (evidentemente por seu compromisso com os projetos da direita). Talvez os resultados não tenham sido os melhores em uma avaliação retroativa, de uma posição confortável na qual nos encontramos hoje, mas foram os resultados possíveis no contexto em que se deram e garantiram, inclusive, a possibilidade de, hoje, alguém sentar-se em frente ao seu PC para emitir opiniões com estatuto epistemológico duvidoso. Identificar 'esquerda', 'comunismo' e 'ditadura' como coisas de mesma natureza, sem a contextualização dos fatos e o aprofundamento teórico em suas premissas é padecer de um reducionismo útil ao convencimento, mas que peca por seu descompromisso com a história e com a realidade concreta dos fatos. A isso denominamos sofisma. Um outro recurso retórico bastante presente nos discursos de Carvalho é o 'argumentum ad hominem', o que leva ao entendimento de que a defesa de idéias opostas devem ser aprioristicamente rejeitadas, já que seu defensor não é digno, sequer, de ser ouvido. Assim, o debate fica impedido já antes mesmo de começar e o atacante, aparentemente, brilha como vencedor. Via de regra, esses dois recursos - o reducionismo e o 'argumentum ad hominem' - são largamente utilizados por quem quer convencer outrem sem dar-se ao trabalho de olhar para além do próprio quintal, seja por limitação intelectual, seja por compromisso ideológico/filosófico contrário aquilo que se está debatendo, o que lhe empurra para uma argumentação descolada da verdade, na maioria das vez, proposital. Aqui adentramos o campo do que se costuma chamar de 'responsabilidade epistemológica' do sujeito e está diretamente ligado ao seu virtuosismo intelectual. A ditadura, bem podia de enquadrar na descrição dada por Carvalho ao comunismo, mas jamais deveríamos reduzir o comunismo à mera ditadura. Em poucas palavras, o discurso comunista prega a igualdade de condições e de acesso aos bens historicamente produzidos pelo homem, uma justiça social sem precedentes em qualquer outro discurso, mas que soa dolorido aos ouvidos acostumados com as dissonantes notas capitalistas. As formas de se chegar a isso são inúmeras e não se reduzem à violência, mas é necessário amadurecimento civilizatório para tanto, o que, ainda, não possuimos e gerou atos criticáveis por parte de quem quis instituí-lo prematuramente. Vale dizer que, a ideologia capitalista neoliberal que impera no mundo atual é a grande responsável pelas guerras atuais e pela violência - aparente e não-aparente - que observamos na sociedade (o fato de possuirmos plenas condições de sentar no MacDonalds enquanto um sem-teto nos observa com fome é um ato de violência tremendo e poucas vezes considerado como tal!). Ser comunista não se confunde com intolerância, violência, ignorância, intransigência, amoralidade, imoralidade, desonestidade, mentira, maldade ou qualquer adjetivo que o valha. Assim como, também, ser direitista não é sinônimo de tolerância, sabedoria, flexibilidade, moralidade, honestidade, bondade, complacência...e a história bem sabe disso! Tais adjetivos são atribuíveis ao ser humano e não, necessariamente, à ideologia política que professam. Temos as duas qualidades de seres humanos em ambas facções (direita e esquerda) e pensar diferente representa não considerar a totalidade dos fatos em nome de interesses próprios e uma violência contra o pensar científico e filosófico. Deixo com vocês o texto original de Olavo de Carvalho, que pode ser encontrado no endereço http://www.olavodecarvalho.org/semana/080520dce.html , para que possam julgar por si mesmos seu argumento:

"A escória do mundo"
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio (editorial), 20 de maio de 2008

“Cuanto más alto sube, baja al suelo.” (Frei Luís de León)

"Vou resumir aqui umas verdades óbvias e bem provadas, que uma desprezível convenção politicamente correta proíbe como indecentes.
Todo comunista, sem exceção, é cúmplice de genocídio, é um criminoso, um celerado, tanto mais desprovido de consciência moral quanto mais imbuído da ilusão satânica da sua própria santidade.
Nenhum comunista merece consideração, nenhum comunista é pessoa decente, nenhum comunista é digno de crédito.
São todos, junto com os nazistas e os terroristas islâmicos, a escória da espécie humana. Devemos respeitar seu direito à vida e à liberdade, como respeitamos o dos cães e das lagartixas, mas não devemos lhes conceder nada mais que isso. E seu direito à vida cessa no instante em que atentam contra a vida alheia.
Nos anos 60 e 70, a guerrilha brasileira não foi nenhuma epopéia libertária, foi uma extensão local da ditadura cubana que, àquela altura, já tinha fuzilado pelo menos dezessete mil pessoas e mantinha nos cárceres cem mil prisioneiros políticos simultaneamente, número cinqüenta vezes maior que o dos terroristas que passaram pela cadeia durante o nosso regime militar, distribuidos ao longo de duas décadas, nenhum por mais de dois anos – e isto num país de população quinze vezes maior que a de Cuba. Nossos terroristas recebiam dinheiro, armas e orientação do regime mais repressivo e assassino que já houve na América Latina, e ainda tinham o cinismo de apregoar que lutavam pela liberdade.
Agora que estão no poder, enchem-se de verbas públicas e justificam a comedeira alegando que o Estado lhes deve reparações. O dinheiro do Estado é do povo brasileiro e o povo brasileiro não lhes deve nada. Eles é que devem aos filhos e netos daqueles que suas bombas aleijaram e seus tiros mataram.
Perguntem aos cidadãos, nas ruas: “O senhor, a senhora, acham que têm uma dívida a pagar aos terroristas, pelo simples fato de que a violência deles foi vencida pela violência policial? O senhor, a senhora, acham justo que o Estado lhes arranque impostos para enriquecer aqueles que se acham vítimas injustiçadas porque o governo matou trezentos deles enquanto eles só conseguiram, coitadinhos, matar a metade disso?”
Façam uma consulta, façam um plebiscito. A nação inteira responderá com o mais eloqüente NÃO já ouvido no território nacional.
É claro que os crimes que esses bandidos cometeram não justificam nenhuma barbaridade que se tenha feito contra eles na cadeia. Mas justifica que estivessem na cadeia, embora tenham ficado lá menos tempo do que mereciam. E justifica que, surpreendidos em flagrante delito e respondendo à bala, fossem abatidos à bala.
Mas eles não acham isso. Acham que foi um crime intolerável o Estado ter armado uma tocaia para matar o chefe deles, Carlos Marighela, confessadamente responsável por atentados que já tinham feito várias dezenas de vítimas inocentes; mas que, ao contrário, foi um ato de elevadíssima justiça a tocaia que montaram para assassinar diante da mulher e do filho pequeno um oficial americano a quem acusavam, sem a mínima prova até hoje, de “dar aulas de tortura”.
Durante a ditadura, muitos direitistas e conservadores arriscaram vida, bens e reputação para defender comunistas, para abrigá-los em suas casas, para enviá-los ao exterior antes que a polícia os pegasse. Não há, em toda a história do último século, no Brasil ou no mundo, exemplo de comunista que algum dia fizesse o mesmo por um direitista.
Sim, os comunistas são diferentes da humanidade normal. São diferentes porque se acham diferentes. São inferiores porque se acham superiores. São a escória porque se acham, como dizia Che Guevara, “o primeiro escalão da espécie humana”.
Eles têm, no seu próprio entender, o monopólio do direito de matar. Quando espalham bombas em lugares onde elas inevitavelmente atingirão pessoas inocentes, acham que cumprem um dever sagrado. Quando você atira no comunista armado antes que ele o mate, você é um monstro fascista.
Por isso é que acham muito natural receber indenizações em vez de pagá-las às vítimas de seus crimes.
Quem pode esperar um debate político razoável com pessoas de mentalidade tão deformada, tão manifestamente sociopática?
Um comunista honesto, um comunista honrado, um comunista bom, um comunista que por princípio diga a verdade contra o Partido, um comunista que sobreponha aos interesses da sua maldita revolução o direito de seus adversários à vida e à liberdade, um comunista sem ódio insano no coração e ambições megalômanas na cabeça, é uma roda triangular, um elefante com asas, uma pedra que fala, um leão que pia em vez de rugir e só come alface. Não existiu jamais, não existe hoje, não existirá nunca."

Walner Mamede Jr