Navegue entre as páginas

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

MIB: um novo rótulo para a música inteligente brasileira?

Por LAÉRCIO CORRENTINA (Compositor e filósofo)


A música brasileira tem sofrido uma perda irreparável, ao longo dos últimos anos (talvez ao longo dos últimos 20 anos), nos seus conteúdos harmônico, melódico, rítmico e, sobretudo, literário e filosófico. Essa música, quando (e talvez ainda seja) concebida com todos esses pressupostos, era considerada um dos maiores produtos de exportação do Brasil, pois todos os grandes compositores estrangeiros e brasileiros, sem nenhum constrangimento, eram unânimes em afirmar que a nossa música tinha todos os elementos da 'grande música universal', sendo, portanto, riquíssima, exatamente sob o ponto de vista dos pressupostos citados: harmonia, melodia, rítmo e conteúdo literário e filosófico. Estes, segundo os grandes críticos de música ao redor do globo terrestre, dificilmente poderiam ser encontrados - de forma tão simbioticamente artística - em qualquer música pelo resto do mundo.

Atualmente, entretanto, todos esses "ingredientes" têm sido vilipendiados e escornados pela 'indústria fonográfica', em função de propósitos culturais, econômicos e políticos globalizantes. Diante desses objetivos, a 'indústria fonográfica brasileira', que é inerente à 'indústria cultural globalizada', tem a atribuição de designar os ditames estéticos da música que deve ser produzida e difundida por todo o Brasil; sendo tais ditames, necessariamente, portadores de uma ideologia conectada àqueles propósitos. Em consequência de toda esse conluio, a música brasileira tem perdido a sua 'aura artística', algo que não seria nada culturalmente, economicamente e politicamente correto para os fins dessa indústria. Sendo assim, aqueles elementos da nossa música foram integralmente ignorados pela mídia radiofônica e televisiva brasileira, a 'indústria cultural'.

Depois de tudo isso, a música que tem sido produzida no Brasil hoje, e difundida pelos meios de comunicação de massa - e o pior, não expressando nenhuma daquelas bases citadas - reivindica para si (por razões de conveniência marketeira) o rótulo de MPB. Rótulo esse que em tempos remotos compreendia a expressão de uma música absolutamente inteligente e criativa que se produzia no Brasil, em que alguns dos seus maiores representantes eram Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gonzaguinha, Milton Nascimento, Ivan Lins, Sá & Guarabyra, Tom Jobim, Toninho Horta, João Gilberto, Edu Lobo, dentre outros.

Penso que seria muito mais adequado a essa música comercial e desprovida de qualquer atributo artístico, o rótulo de "popularesca", pois o termo "popular", como fora empregado em tempos áureos da cultura brasileira, simbolizava uma música pruduzida espontaneamente pela inteligência e sensibilidade criativas do compositor brasileiro. Era a expressão da mais autêntica subjetividade artística brasileira. E agora perguntamos: cadê tudo aquilo que "era" expresso pela nossa música? Os compositores brasileiros não têm produzido mais nada? E, às vezes, alguns desavisados são até capazes de afirmar: "aquela MPB morreu"; ou "nós estamos vivendo uma época de modernidade na música, o que não admite tendências estéticas muito introspectivas ou críticas". Ou ainda aquelas falácias do tipo: "a MPB tradicional é muito conservadora e não admite novas tendências estéticas". Puro 'senso comum'! E eu interrogo: oh, deuses da música, onde vamos parar por tanta modernidade?! Em razão de tudo isso, é que sugiro que criemos uma nova legenda, que expresse toda a criatividade sensível, perceptiva e artística da nossa música. Enfim, uma legenda que possa ser considerada, autenticamente, a expressão de uma música inteligente brasileira; sendo essa música, ao mesmo tempo, independente de quaisquer amarras, a fim de tentarmos dissipar tanto engano e subserviência. Sugiro que criemos então a MIB: Música Inteligente Brasileira.

Um abraço para os corações estetas!