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quarta-feira, 2 de abril de 2014

Considerações sobre o estupro...





Esta imagem tem causado polêmica. Vários são os que mal interpretam a expressão "pedindo para ser estuprada", sejamos mais analíticos e menos apaixonados em nossas opiniões! A expressão, qdo bem usada, não quer dizer pedir no sentindo de desejar como meta. É como muita gente, incluso eu, já deve ter ouvido de seus pais "menino, vc tá pedindo para apanhar!". Quem, em sã consciência, pede para apanhar dos pais?! "Pedir", nesse caso, possui a conotação de "vc está se colocando em situação de...", ainda que a pessoa não o faça conscientemente! Somente na cabeça de um doente a expressão "pedindo para ser estuprada" justificaria o ato e assumiria a conotação de desejo consciente e premeditado! Bem dito isso, metade dos posicionamentos sobre o assunto pode ser desconsiderada, já que sua premissa seria essa...um equívoco conceitual sobre a expressão "pedindo para ser estuprada"...Descartada essa hipótese, pensemos na direção que me parece ser a mais próxima de uma lucidez: se a ameaça existe, o mínimo que podemos fazer é nos precaver! Quem de nós se expõe em ruas escuras e isoladas sabendo do perigo? Ladrões, assassinos, espancadores existem, sempre existiram e vão continuar existindo. É nosso direito andar como, quando e onde quisermos, mas sabendo da existência deles, não nos colocamos em situação de risco, acreditando em nossos direitos civis e levantando uma bandeira em sua defesa. Qual de nós já disse a alguém que ele deve colocar um terno, um relógio caro e sair com a carteira cheia de dinheiro pelas quebradas à noite, como forma de demarcar seu direito de ir e vir? Usar o discurso de direito absoluto da mulher se vestir como quer, onde quiser, quando quiser é tão irresponsável quanto legitimar ou justificar o estupro por causa de suas roupas!!! O que precisamos ter em mente é que cada local, cada ocasião pede um tipo de roupa e se vc mulher estará em um local ou uma ocasião que o tipo de roupa pode expô-la ao perigo, por favor, tenha bom senso e não vista, lembre-se, "a ocasião faz o ladrão", é o dito popular. Outra coisa, muitas vezes, o estupro não ocorre no momento em que a mulher está com roupas ousadas, mas sim em decorrência do uso dessas roupas em outra ocasião, o que atraiu o maluco. O estupro não ocorre pela mera existência do estuprador ou apenas pelo uso de roupas e comportamentos sensuais, é necessário que essas duas variáveis confluam com a oportunidade e estejam inseridas em um contexto, claro! Mas tenhamos em mente que quanto mais variáveis relacionadas a um evento apresentarem-se simultaneamente, maior a probabilidade de ocorrência desse evento. Apesar de os dados estatísticos existentes sobre a correlação entre vestuário e ocorrência de estupro não serem conclusivos e existirem críticas quanto à significância, à metodologia de obtenção e mesmo à sua cientificidade, lembremos que nem tudo que orienta nossas condutas se baseia na Ciência e que o senso comum é, às vezes e com parcimônia, mais eficiente à sobrevivência, sendo ele que garantiu à espécie humana se manter onde outras falharam e ainda pode nos ser bastante útil. Negligenciar isso e negar tal informação às massas acusando-a de “discurso machista” é, no meu entender, desonestidade intelectual e irresponsabilidade social com grave viés ideológico que acaba por transformar questões diversas, amplas e gerais em questão de gênero com uma abordagem reducionista e unilateral, muitas vezes, sofista (a exemplo, leiam http://maisquepalavrasentimento.blogspot.com.
br/2014/01/o-machismo-nosso-de-cada-dia.html
). Abordando a questão por um prisma biológico (e essa é a pedra no sapato de qualquer partidário radical das Ciências Socio-Humanas), temos ainda que todos possuímos instintos que antecedem a Ciência e as próprias normas sociais. O estuprador é o cara que, desarrazoadamente e à revelia do que poderia ser ética e cientificamente esperado, se rendeu aos instintos em detrimento das regras de bom comportamento e os instintos são provocados por um gatilho, no caso, a exposição sensual do corpo. Não faço aqui a apologia ao estupro ou sua justificação culpabillizando a mulher estuprada por seu estilo indumentário. Repetindo: a mulher não é culpada pelo próprio estupro, mesmo porque ela não é a única variável interveniente (e aqui podemos recorrer ao conceito de variável antecedente e variável critério) no processo e isso seria mero julgamento moral. Mas não podemos, simplesmente, negar uma correlação causal (sempre entendendo “causa” como algo multifatorial e contextualizado) que independe das normas sociais, legais, morais ou lógicas, é alheia a qualquer tipo de qualificação do discurso como machista ou feminista, simplesmente porque defendemos o direito feminino de escolher suas roupas. Reconhecer tal relação não vai contra esse direito. Utilizar tal relação para desqualificar a mulher é que fere seus direitos e representa um mal uso do conhecimento. Independentemente do reconhecimento ou não de uma correlação entre vestimenta e estupro e de a mulher possuir ou não direitos, o estupro ocorre e vai continuar ocorrendo, assim como o roubo, o latrocínio, o assassinato e outros crimes, pois nossa sociedade é incompetente para educar seus filhos, nosso sistema policial é inepto para prevenir os crimes e nosso judiciário é inábil na punição dos casos concretos. Então, quem não se adapta ao contexto se coloca em situação de risco e isso, por mais injusto que possa parecer, é uma lei de sobrevivência que antecede qualquer sociedade e precisamos ficar atentos a ela!!! Podemos, sim, lutar por justiça e liberdade, mas sem a inconsequência que vislumbro na maioria dos discursos...Quem sabe, algum dia, possamos todos andar como queremos e ser o que quisermos sem julgamentos e agressões? Um dia, talvez, mas não hoje...