Interessante vídeo do Prof. Dunker, ao qual não pude deixar de fazer algumas considerações, sem a pretensão de grandes aprofundamentos teóricos ou compromissos com a forma discursiva acadêmica, como é próprio deste espaço de diálogo, mais no sentido de acrescentar do que de contestar algo. Convido você, caro leitor, a assistir ao vídeo e ler a pequena elucubração a seguir.
De forma geral, toda área de conhecimento pode lançar mão da mesma justificativa dada para a Psicanálise: "a graduação não permite um conhecimento profundo da MINHA ÁREA de especialização, pois ela, a graduação, se ocupa de explanar, em amplitude e não em profundidade, as diferentes vertentes do campo profissional ao qual está ligada. Assim, perde de perspectiva o acúmulo histórico de conhecimentos acumulados por MINHA ÁREA, que exigem maior tempo de dedicação e estudo para serem apropriados, permitindo um domínio profundo da literatura e suas práticas". Se pensarmos dessa forma, todas as vertentes da Psicologia podem se posicionar da mesma maneira.
No meu entender, a diferença não deveria ser focada na contraposição entre Psicologia e Psicanálise como cursos de formação, pois, visivelmente, a primeira estará em uma hierarquia inferior, pelo próprio propósito da graduação em relação à pós-graduação Lato ou Stricto sensu, assim como o seria Farmácia e Farmacologia, p. ex, entre tantos outros exemplos. Onde estaria a diferença primordial, então? Para além da contraposição como cursos de formação, que denuncia uma diferença de grau, poderíamos evocar o que foi dito no início do vídeo e que explicita uma diferença de natureza e origem, ainda que esta pareça ter se perdido ao longo do tempo: Psicologia como campo de estudo acadêmico, que busca a compreensão dos processos mentais, proposta por Wundt, em meados do século XIX, e Psicanálise como aplicação do conhecimento sobre os processos mentais, com fins na terapia, como proposta por Freud, em meados dos anos 90, do século XIX.
No primeiro caso, a sofisticação do conhecimento se daria pela pesquisa experimental e a reflexão filosófica acerca de um objeto, a mente, sem um compromisso terapêutico, no segundo caso, pela aplicação prática do conhecimento à pessoa, com o objetivo de solucionar um problema, eminentemente, existencial humano, por meio da terapia, ambas com aportes da Filosofia e do método científico positivista, este em franco desenvolvimento, à época. Seria impossível evitar que as duas áreas se tocassem, colidissem ou mesmo se fundissem como campos de estudo, em algum momento, definidas as especificidades metodológicas próprias de cada uma, e disputassem mercado, a partir da formação de seus profissionais, como é comum às diferentes áreas do conhecimento, inclusas as diferentes linhas da Psicologia (ou Psicanálise), entre si, as quais se diferenciam, ainda, pelo grau de formação de seus egressos.
Nesse sentido, acho difícil abordar essa questão me referindo a ambas no singular, como se existisse uma unidade teórico-metodológica e paradigmática para cada uma. No meu entender, é mais prudente e parcimoniosa a abordagem como "Psicologias" e "Psicanálises", ainda que pontos comuns existam entre as diferentes linhas no interior de cada uma, o que nos permite abordá-las, conjuntamente, como campo de estudo com um mesmo objeto, no singular. Para apimentar, ainda mais, o debate, eu diria que isso se assemelha à polêmica do pseudo-monoteísmo cristão, quando olhamos a concepção de Deus no interior de cada vertente dogmático-religiosa apoiada na Bíblia, monoteísmo que se sustenta, somente, pela negação das muitas diferenças em favor das menores semelhanças acerca desse conceito. Ao contrário da Religião, que sobrevive pela manutenção (às vzs, violenta) da tradição, à custa de uma retórica viciada e contraditória, na Ciência, precisamos reconhecer a diversidade no seio da unidade, renovando práticas e discursos, para que o conhecimento evolua, mude, ainda que tal reconhecimento exija a cisão dessa unidade.
E você? O que pensa a respeito?! Deixe sua opinião nos comentários, ainda que divirja, diametralmente, da minha.
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