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sexta-feira, 11 de março de 2011

Suicídio, angústia e solidão (resumo)

Walner Mamede Júnior
Maria do Socorro Correia Lima


O suicídio, como qualquer outra escolha, está imerso na solidão. Esta pode ser vista não apenas como motivadora do ato, mas também como sua parte integrante e indissociável. Assim, não se diferencia de outros atos decisórios, constituindo-se como escolha de uma alternativa, a morte, ou fuga de outra, a vida, motivada pela angústia inerente à própria condição humana (Kierkegard). Ao analisarmos alguns trechos de cartas de suicidas, podemos inferir que o suicídio não se difere de outras escolhas no aspecto ‘solidão’, mas apenas no que tange ao ato pré-decisório. A angústia do suicida se refere à sua percepção de que todos nós somos solitários no ato de constituição de nossas escolhas e isso o asfixia a ponto de materializar nele a perda do sentido da vida.

A dor, entendida como perda, advinda do sentimento de frustração e incompletude, é percebida pelo suicida de forma egocêntrica, uma vez que, como fica claro nas cartas analisadas, a percebe como lhe sendo exclusiva e impossível de ser compartilhada. Diante disso, a vida torna-se, para ele, motivo de infelicidade e, portanto, avessa ao ‘Bem’ e, no caso do religioso, a Deus. Nesse momento, a razão descortina a morte, entre tantas alternativas, como resposta ao problema, até então insuperável, e a inocência, em relação à liberdade possível de escolha, se perde. A morte se apresenta como alternativa à vida e impõe o necessário arbítrio, que se fará na direção dela em caso de perda do lastro com a vida. A consciência da liberdade de escolha gera angústia e medo de errar, em um momento de absoluta solidão, que potencializa a solidão ‘a priori’ (impossibilidade de compartilhamento). A escolha, uma vez realizada (no caso do suicida, a morte), gera uma aparente tranqüilidade que antecede a consumação do ato, sempre solitário.