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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

MIB: um novo rótulo para a música inteligente brasileira?

Por LAÉRCIO CORRENTINA (Compositor e filósofo)


A música brasileira tem sofrido uma perda irreparável, ao longo dos últimos anos (talvez ao longo dos últimos 20 anos), nos seus conteúdos harmônico, melódico, rítmico e, sobretudo, literário e filosófico. Essa música, quando (e talvez ainda seja) concebida com todos esses pressupostos, era considerada um dos maiores produtos de exportação do Brasil, pois todos os grandes compositores estrangeiros e brasileiros, sem nenhum constrangimento, eram unânimes em afirmar que a nossa música tinha todos os elementos da 'grande música universal', sendo, portanto, riquíssima, exatamente sob o ponto de vista dos pressupostos citados: harmonia, melodia, rítmo e conteúdo literário e filosófico. Estes, segundo os grandes críticos de música ao redor do globo terrestre, dificilmente poderiam ser encontrados - de forma tão simbioticamente artística - em qualquer música pelo resto do mundo.

Atualmente, entretanto, todos esses "ingredientes" têm sido vilipendiados e escornados pela 'indústria fonográfica', em função de propósitos culturais, econômicos e políticos globalizantes. Diante desses objetivos, a 'indústria fonográfica brasileira', que é inerente à 'indústria cultural globalizada', tem a atribuição de designar os ditames estéticos da música que deve ser produzida e difundida por todo o Brasil; sendo tais ditames, necessariamente, portadores de uma ideologia conectada àqueles propósitos. Em consequência de toda esse conluio, a música brasileira tem perdido a sua 'aura artística', algo que não seria nada culturalmente, economicamente e politicamente correto para os fins dessa indústria. Sendo assim, aqueles elementos da nossa música foram integralmente ignorados pela mídia radiofônica e televisiva brasileira, a 'indústria cultural'.

Depois de tudo isso, a música que tem sido produzida no Brasil hoje, e difundida pelos meios de comunicação de massa - e o pior, não expressando nenhuma daquelas bases citadas - reivindica para si (por razões de conveniência marketeira) o rótulo de MPB. Rótulo esse que em tempos remotos compreendia a expressão de uma música absolutamente inteligente e criativa que se produzia no Brasil, em que alguns dos seus maiores representantes eram Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gonzaguinha, Milton Nascimento, Ivan Lins, Sá & Guarabyra, Tom Jobim, Toninho Horta, João Gilberto, Edu Lobo, dentre outros.

Penso que seria muito mais adequado a essa música comercial e desprovida de qualquer atributo artístico, o rótulo de "popularesca", pois o termo "popular", como fora empregado em tempos áureos da cultura brasileira, simbolizava uma música pruduzida espontaneamente pela inteligência e sensibilidade criativas do compositor brasileiro. Era a expressão da mais autêntica subjetividade artística brasileira. E agora perguntamos: cadê tudo aquilo que "era" expresso pela nossa música? Os compositores brasileiros não têm produzido mais nada? E, às vezes, alguns desavisados são até capazes de afirmar: "aquela MPB morreu"; ou "nós estamos vivendo uma época de modernidade na música, o que não admite tendências estéticas muito introspectivas ou críticas". Ou ainda aquelas falácias do tipo: "a MPB tradicional é muito conservadora e não admite novas tendências estéticas". Puro 'senso comum'! E eu interrogo: oh, deuses da música, onde vamos parar por tanta modernidade?! Em razão de tudo isso, é que sugiro que criemos uma nova legenda, que expresse toda a criatividade sensível, perceptiva e artística da nossa música. Enfim, uma legenda que possa ser considerada, autenticamente, a expressão de uma música inteligente brasileira; sendo essa música, ao mesmo tempo, independente de quaisquer amarras, a fim de tentarmos dissipar tanto engano e subserviência. Sugiro que criemos então a MIB: Música Inteligente Brasileira.

Um abraço para os corações estetas! 
 

13 comentários:

  1. Faço minhas as colocações do Laércio. Há duas semanas, inclusive, empreendi uma discussão com um amigo e fiz colocações muito parecidas. Ele objetou, dizendo que eu estava generalizando sem base empírica, pois existem vários bons músicos, mesmo hoje, assim como existiam péssimos músicos nas décadas de 60, 70 e 80. A questão que me parece posta em argumentos como esse é a de que podemos justificar a regra pela exceção e, assim, corrermos o risco de possibilitar a legitimação, quando conveniente, de determinada situação. Pra mim é evidente que sempre existiu a boa e a má música (ou qualquer que seja o ‘produto’ artístico), o problema não é esse, mas sim a massificação da má em detrimento da boa segundo critérios mercadológicos e interesses financeiros, o que reduz a diversidade e empobrece o cenário artístico, privando, autoritariamente, as novas gerações, que passam a ter acesso apenas a um gênero, tipo ou qualidade musical (duvidosa) e a qual reproduzirão por mera falta de opção. E como é próprio do ser humano a tentativa de simplificação da vida, por uma questão de economia e eficiência, de forma insidiosa e não percebida a música tem sido impregnada por simplismos/reducionismos poéticos obviedades melódicas e uma completa ausência de conteúdo filosófico/reflexivo.

    A crônica sertaneja e do samba, a crítica lírica à política e à sociedade, a diversidade e irreverência do rock, a nostalgia do blues, a comicidade picante e divertida do forró/xote, o romantismo inebriante do bolero, a sedução do tango, todos esses gêneros perderam espaço valioso para “as cachorras e preparadas” que na “boquinha da garrafa” embarcam no “bonde do tigrão”, cujos passageiros desavisados embalados por seu “...tchac, tchac, tchunc, tchunc, tchac, tchunc...” seguem para as “festas de rodeio...[onde] ninguém vai ficar parado” em suas “eguinhas pocotó” e só sabem “beber, cair, levantar”, balançando a cintura e pensando “Ai se eu te pego... Ai se eu te pego...” (desculpem os trocadilhos, mas não pude evitar...rss...). Infelizmente, esse é o cenário atual da música e poucas são as pessoas capazes ou interessadas em contestá-lo, seja por já terem sido cooptadas por ele, seja por terem interesse em cooptar pupilos/consumidores. A situação é tão crítica que está ficando difícil diferenciar entre sertaneja, rock e “MPB”. Ainda conseguimos distinguir o que é funck, mas não por sua boa qualidade musical, mas pelo apelo sexual e absurda pobreza literária e musical, que já adentrou o rap e faz com que qualquer um com uma capacidade mínima de rimar e uma língua afiada para vociferar poemas (?!) cáusticos embalados por uma sonoridade repetitiva contra a sociedade se sinta músico. É o caos!

    (CONTINUA ABAIXO...)

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  2. (...CONTINUAÇÃO...)

    Alguns me acusam de nostálgico e conservador, alheio à “natural evolução musical”, que retrataria uma nova sociedade e uma nova estética, mas penso ser esta acusação mero eco da assimilação de uma moral do senhor pelo servo, como diria Nietzsche. Dizem, ainda, ser eu um desavisado, pois a música que desejo existe, bastando que eu procure. É claro que sim! É claro que ela existe, não é esta minha objeção. O que critico é sua existência submissa, subjugada, relegada aos porões, sufocada por uma massa ignóbil de consumidores manipulados por uma indústria inescrupulosa e desinteressada, culturalmente. A massificação é fruto da simplificação em nome da eficiência financeira e da dominação...e quantos percebem isso?! E os que percebem, quando têm oportunidade de se manifestar ou se fazerem ouvir? Sua voz é silenciada, sua música não é ouvida ou sequer tocada nos veículos de grande circulação. Grandes projetos morrem no anonimato, levando com eles seus ilustres e desconhecidos idealizadores.

    É uma pena ter que ver grandes vozes se submeterem às normas de mercado para sobreviverem musicalmente, mas é isso que tem ocorrido e vejo poucas perspectivas de mudança. Por isso, ainda que seja eu apenas um músico das horas vagas (coisa que não ando tendo, aliás), digo SIM ao movimento MIB. Apenas faço uma sugestão quanto ao “I” da sigla: a fim de evitarmos longos colóquios dos defensores da atual mpb (minúscula de propósito) acerca do conceito de “inteligência” (controverso) e de sua aplicação 'politicamente correta', o que enfraqueceria o movimento pela porta de trás, sugiro que a letra se refira a “independente”, ficando "Música Independente Brasileira”, retratando sua independência em relação ao autoritarismo do mercado, sua independência intelectual, sua independência política e criativa.

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  3. Quem é Laércio Correntina? Quem disse que existiam “péssimos músicos nas décadas de de 60, 70 e 80”? Nossa discussão foi em torno da década de 80 considerada de “músicas ótimas” e daí em diante “péssimas”. Aliás, indústria fonográfica de massa é um fenômeno que ocorreu no Brasil a partir dos anos 80. Música ruim e música boa é muito relativo. Da próxima vez apresente um artigo de alguém que entenda de música e de sua história, como José Ramos Tinhorão, Tárik de Souza, Sérgio Cabral Santos (pai do governador do Rio), Hermano Viana (irmão do Herbert do Paralamas), Nelson Motta, Vasco Mariz e tantos outros. E não um Zé ninguém...

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  4. Amigo, diante de minha afirmação de queda da qualidade da música brasileira, vc reconheceu a existência de música ruim e boa tanto no período anterior aos anos 80, quanto na própria década de 80 e nas décadas seguintes e afirmou que a música perdeu qualidade após os anos 70 com o empobrecimento melódico e harmônico, citando como exemplo de mau gosto a pop-dance e ainda o rock e a MPB, que nos anos 60 e 70 (principalmente, 70) eram mais ricas. Ao mesmo tempo não aceitou o fato de, a partir dos anos 90, a música ter sofrido uma queda vertiginosa da qualidade, citando exemplos que variavam desde o instrumental erudito e do Jazz à MPB que surgiram nessa época ou se mantiveram vivas desde os anos 70.

    (CONTINUA ABAIXO...)

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  5. (...CONTINUAÇÃO...)

    Contudo, objetei que quando nos reportamos à qualidade, o fazemos em termos de uma "hegemonia musical" (ditada pela indústria fonográfica), pois, se nos prendermos às exceções, àquilo que se sustenta nos circuitos alternativos, underground ou restritos a uma elite intelectual ou, não sendo intelectual, um grupo/gueto/tribo específico, estaremos avaliando o cenário geral da música pelo particular e cairemos na falácia conhecida como generalização indevida. A generalização, por si, já é um problema, se a constituirmos a partir de evidências insuficientes, o problema é potencializado, já dizia Bacon. Quando afirmamos a queda da qualidade, estamos utilizando como indicador o fenômeno de massa, aquilo que é acessível e 'dado' ao público em geral, não aquilo que precisa ser procurado nos porões da música, pois, se procurarmos, vamos achar todo um espectro de qualidade, do "bom" ao "ruim", conforme os mais variados critérios de inclusão e exclusão do conceito. Mas não é a isso que nos referimos e sim ao fato de o conceito hegemônico de "boa música" ter se alargado em demasia, gradativa e sorrateiramente, ao longo das décadas, mas, sobretudo, a partir dos anos 90 quanto aos quesitos letra, ideias, originalidade, profundidade, diversidade. O problema não é a existência deste ou daquele estilo musical, deste ou daquele grau de qualidade, pois a diversidade de gostos exige uma diversidade de ofertas, mas a massificação de um tipo em detrimento dos demais, comprometendo a riqueza e diversidade disponível ao público em geral, o qual tenderá a reduzir seus próprios critérios de exigência de qualidade e a reproduzir um padrão único quando estiver em posições (músico, compositor, produtor...) que assim o permitam. É esse processo insidioso que, historicamente, tem se imposto ao cenário musical e tem sido o principal responsável pelo fenômeno da qualidade duvidosa que domina a música de massa nos tempos atuais. Não pretendo aqui fazer apologia à massificação, afirmando que toda música deva ser maciçamente acessível ao público e simplesmente desejar que a "boa música" tome o lugar da "má música" na mídia. A avaliação da qualidade musical está além disso e passa por outros critérios. Mas o gosto das massas é um indicativo seguro do conceito hegemônico de qualidade que presenciamos nos dias atuais e a ascensão de um novo padrão de qualidade (mais ao sabor do que propõe o Laércio) para os veículos de massa representaria uma elevação da exigência social de qualidade. Aqui esbarramos no problema comercial: como elevar o padrão das massas sem correr o risco de não vender por não oferecer o que eles desejam? A resposta, tvz, seja utilizar do mesmo expediente que foi utilizado em mão inversa até os dias de hoje: reintroduzir a qualidade sorrateiramente, mesclada ao que já está aí de ruim e, aos poucos, subverter os gostos. E um movimento como este que se inicia aqui teria papel fundamental, inclusive junto a alunos de escolaas e universidades, empreendendo reflexões e vivências nas quais nossos alunos tivessem, ao menos, a chance de acesso a um outro padrão musical que não aquele, autoritariamente, introduzido em suas orelhas pela indústria. Talvez fosse interessante, mesmo, um investimento acadêmico maior em pesquisas que esclarecessem essa tensão, lançando mão de metodologias como a Análise de Conteúdo ou a Análise de Discurso, entre outras, que possibilitassem indicadores tão objetivos quanto possível (sem cair na ingenuidade da objetividade científica absoluta) para a avaliação da qualidade na música.

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  6. Ah, quase me esqueci...o Laércio, além de um grande amigo, filósofo e estudioso do tema, é um músico de mão cheia e bastante reconhecido em Goiás...não o leigo que vc pensa!

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  7. Eu achei bem preconceituoso esse texto Walner, a situação da musica no país, nos veículos de comunicação de massa é voltada para mercado mesmo. Hoje vc tem de tudo por aí, e se vc tem acesso a net vc encontra. Agora é complicado criticar raízes de coisas que emergiram no centro da população mais pobre como funk carioca, ou RAP dos guetos de SP ou mesmo daqui do DF. Certa vez um professor de música definiu música para mim com sendo um conjunto de sons que agrada aos ouvidos de quem os ouve.

    E ai creio eu, que o problema não esteja na musica, mas em todo uma pauta conteudista que existe e que quer vender milhões de produtos e um estilo de vida para pessoas, essa comunicação tem tão somente esse propósito. Vender, vender, vender e a única saída está numa educação que forme pessoas críticas, com pensamento crítico capaz de localizar os males causados por essa intensa comunicação massificada. Detalhe, atualmente o único mercado que realmente fatura com venda de discos/cds e afins é o da musica GOSPEL.

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  8. Edson,
    Esclarecendo meu ponto de vista, recomendo o texto "IMPACTO DA MÚSICA BAIANA NA TRANSFORMAÇÃO DA MORAL SOCIAL: REFLEXÕES FILOSÓFICAS", Por Gel Varela (Disponível em http://www.bahianoticias.com.br/principal/artigo/424-impacto-da-musica-baiana-na-transformacao-da-moral-social-reflexoes-filosoficas.html) e procedo aos 5 comentários que se seguem:
    1) podemos entender "gosto musical" como a afinidade estética e psicológica que o indivíduo construiu acerca deste ou daquele gênero/estilo musical, segundo sua biografia e o contexto no qual está inserido, considerando que uma manifestação qualquer da pessoa é condicionada pela subjetividade social, que tensiona biografia pessoal e contexto social (Fernando Rey). Talvez este não seja o único conceito válido, mas é o que basta ao que pretendo dizer com meu texto; 2) as afinidades (gosto) relacionadas à música ou a qualquer tipo de objeto no mundo das coisas são estabelecidas sutilmente, pelo menos em parte, a partir das vivências positivas do sujeito e de sua exposição a esse objeto e do vínculo (induzido ou expontâneo) do objeto com valores referidos ao capital social integrante do contexto no qual esse sujeito contruiu sua biografia. Assim, é comum ouvirmos frases como "Puxa esse cheiro me lembra fulano" ou "Essa música me recorda tal momento" ou "Quando ouço tal música me dá vontade de fazer tal coisa". Essas são recordações resgatadas pela experiência sensorial e postas em movimento, que podem provocar um ou outro tipo de comportamento (ah, as experiências negativas também têm esse poder). Em síntese, são as experiências sociais, moduladas pela subjetividade, que condicionam nossos gostos. 3) a luta contra a indústria fonográfica é uma guerra a ser vencida em décadas de batalha, assim como foram décadas necessárias para chegarmos onde estamos. Precisamos unir forças na criação de estratégias de contra-propaganda, a fim de reintroduzir um novo padrão estético musical no terreno inimigo e para isso podemos utilizar a internet, rádios comunitárias, eventos, projetos culturais e educacionais comunitários e escolares, pesquisas acadêmicas, entre outros que nossa criatividade e empenho permitirem. Não é uma questão de concorrência comercial imediata com o padrão hegemônico, mas sim de uma estratégia de guerrilha, na qual iremos "comendo pelas beiradas"; 4) o sucesso de um gênero possui vários fatores causais, mas, no contexto da nossa conversa, é resultado de um ataque macivo da mídia, que identifica um gosto latente nas massas e expande um padrão, antes, restrito a um limitado grupo cultural ou espaço geográfico, mas que aos poucos cai nas graças de um grupo maior e vai contaminando outras pessoas, seja pelas caraterísticas contagiantes do padrão jingles (verso-refrão+música fácil e grudenta), seja pela insistência da presença em todos os ambientes que vamos, sem que tenhamos alternativas para escolha; 5) o sucesso pode (mas não só) ser medido pelo grau de inserção social que o estilo possui e a quantidade de aliados que congrega em torno de si em sua defesa e reprodução. Contudo, ele é relativo, pois algo que possua sucesso no seio de determinado grupo, pode não ter em outro, apesar de que, quando falamos de música de massa, estamos nos referindo ao sucesso entre o maior número possível de pessoas que possuam, ao menos em parte, um critério de qualidade em comum.

    Abrs.

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  9. Abram suas mentes para entender o ponto do qual parte minha crítica! Ao longo da história, cada período hegemoniza valores, condutas, crenças e preferências. Hegemonia não representa unanimidade acerca de um assunto, mas tão somente a liderança ou supremacia de uma coisa em relação a outra (do grego hegemon=líder). Com Gramsci, o termo adquire um sentido mais preciso, passando a assimilar, também, o significado de dominação consentida, instituída por meio de uma ideologia, a despeito do fato de existirem movimentos contrários de resistência à ideologia dominante. Os movimentos de resistência são párias, sobreviventes em um mar de inospitalidade e, portanto, pouco evidentes às mentes menos desavisadas que o movimento hegemônico, de muito maior acessibilidade. Traduzindo, aquilo que é mais comum e disseminado está mais acessível à apreensão por nossos sentidos que aquilo que se encontra nos guetos e porões, acessível apenas a quem perscruta os recônditos mais sombrios da sociedade. A invisibilidade não significa inexistência. Contudo, a invisibilidade é um indicador preciso da forma de pensar, agir e gostar mais comum na sociedade. Os artefatos invisíveis, como exceção que são, não podem ser utilizados para caracterizar um grupo social e desconsiderar sua característica mais marcante determinada pela forma hegemônica de ser. Assim, para x≠y, considerem a seguinte estrutura de raciocínio:

    A: A forma hegemônica é ‘x’
    B: A forma ‘y’ se opõe a ‘x’
    C: ‘x’ é mais conhecido e aceito que ‘y’

    Por Modus Tollens:

    Se A e B então C
    C é falso
    Logo, A e B são falsos

    Por Modus Ponens:

    Se A e B então C
    A e B são verdadeiros
    Logo, C é verdadeiro

    Ilustremos, agora, a argumentação acima com as seguintes substituições:

    Para A, Música de massa é hegemonizada pela ideologia de mercado da indústria cultural
    Para B, Músicas de qualidade são sobreviventes nos ambientes menos acessíveis, difundidos e massificados
    Em C, temos: Música de massa é mais conhecida que Músicas de qualidade

    A que conclusão chegam? O que pretendo com todo esse imbróglio? Bem, intenciono demonstrar que, apesar de música de qualidade estar sendo, ainda, produzida após os anos 80 e de estarmos em um momento, pretensamente, muito fértil, a hegemonia musical não é representativa dessa realidade, o que é reforçado pelas palavras do próprio Regis Tadeu (autor do post) ao afirmar “que é preciso procurar” a boa música, “pois nada de legal vai ser visto na TV ou ouvido nas rádios”, veículos, reconhecidamente, de massa. A internet é bastante difundida, mas seu mecanismo de difusão utiliza a proporção de 1:1 (uma mensagem/usuário), ela possui um número excessivo de canais a serem garimpados em busca do que é bom, a informação está espalhada em vários pontos diferentes e depende da atenção focada do usuário, enquanto a TV e rádio utilizam a proporção 1:muitos e atingem mesmo quem não está focado na mensagem, entre outras diferenças de mecanismos de massificação que podem ser aventados e que condicionam o alcance de uma mensagem. Então, finalizando, minha crítica não afirma a inexistência de ‘música boa’, mas sua invisibilidade em detrimento de um monte de porcaria que ouvimos de forma fácil e indesejada todos os dias!!! Nesse sentido, houve um terrível empobrecimento dos critérios que norteiam as escolhas dos ouvintes, assim como das músicas de mais fácil acesso que, apesar de existirem desde sempre, abandonaram seus nichos de mau-gosto e ganharam o mundo, hegemonizando-se, invadindo nossos ouvidos e comprometendo a diversidade musical disponível às novas gerações. Compreenderam?

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    1. Ao goiano doido que deve estar enlouquecendo com o doutorado e insiste em discutir,
      Fala, fala, fala, mas mistura alhos com bugalhos. É bom rever o Gramsci, pois para ele até a música de “qualidade” parte-se de um conceito hegemônico. Aliás nem tudo da cultura de massa é ruim, sem qualidade. Bourdieu pode lhe explicar melhor. Sobre a cultura de massa é bom ler os teóricos da indústria cultural, da escola alemã de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse), já ultrapassada em vários de seus argumentos inclusive. Para isso ver os teóricos da sociologia do consumo. Sua idéia de que a música feita depois dos anos 80 é ruim é um argumento muito fraco, sem sustentação. Não adianta misturar Gramsci com filosofia/lógica, com a teoria da indústria cultural com não sei mais o quê, o problema é o argumento que não se sustenta. Abrs

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  10. Amigo Renato, muito bonitas suas palavras, mas não passam disso! No geral, tenho muito respeito por suas colocações, mas, nesse assunto, não posso concordar com vc! Onde estão os “alhos” e os “bugalhos”? Por que em vez de, simplesmente, se contrapor ao que digo, vc não argumenta demonstrando o que vc diz?! O que vc faz não é debate, aliás, vc se furta a ele fazendo citações e vomitando erudição, mas sem argumentar. Pare de falar que os outros dizem e argumente utilizando como referência o que os outros dizem em relação ao que vc pensa. Parece que não há diferença, mas há e é sutil, entretanto, muita gente boa não percebe a sutileza. Essa é uma crítica comum em metodologia científica. É isso que representa uma argumentação lógica. E, por falar em lógica, se vc não tem costume, é plenamente pertinente utilizar tal artifício em uma argumentação, pois é por esse mecanismo que estruturamos nossa forma de pensar e explicitá-lo em uma argumentação permite, inclusive, aos opositores se posicionarem melhor em relação ao que estamos dizendo, claro, se o opositor não se intimidar com a estrutura argumentativa. Aliás, ao contrário da forma que vc pensa, “misturar” Sociologia, Filosofia, Lógica e teoria da comunicação não é um demérito ao argumento, mas explicita uma forma de perceber a realidade que não é a visão tradicional unidimensional, mas complexa e interdisciplinar, pois a própria realidade é assim. Desqualificar um argumento sem contra-argumentar é um recurso retórico pobre. Nesse sentido, já desqualificado o seu argumento em defesa do meu, sigo contra-argumentando sobre os fundamentos que me apresenta, como deve ser a estrutura de um bom debate. Se não for assim, darei aqui por encerrado o debate, pois representará mero palavrório sem futuro.

    (CONTINUA ABAIXO...)

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  11. (...CONTINUAÇÃO)

    Bem, parece-me que a maestria em misturar alhos com bugalhos não é minha. Eu nunca neguei que a “música de qualidade” pudesse ser um conceito hegemônico, vc que deduziu isso, mas sem fundamentação em meu argumento. E eu não misturei Gramsci com música, só defini o que eu entendia por “hegemonia”, utilizando o conceito gramsciano, para, então, esclarecer meu pensamento, foi só isso! Concordo com vc que não dá pra misturar! Pelo menos, não com a leitura restrita que possuo...sei lá se alguém mais conhecedor do assunto conseguiria! Observe que na própria conceituação de ‘hegemonia’ que apresentei é possível perceber que o conceito se aplica a várias esferas da vida humana. Contudo o que é, hoje, aceito hegemonicamente como critério de qualificação da música em “boa” difere do que era aceito nos anos 80 e anteriores. Ao compararmos os critérios hegemônicos nos anos 60, 70, 80, 90 e 00, é fácil perceber as diferenças de critérios existentes em cada um desses anos, critérios esses que condicionam o tipo de música a ser vendido para as massas, tendo por objetivo o lucro. Se o critério hegemônico valoriza letras e melodias mais pobres, óbvias e fáceis é isso que vai ser vendido pela indústria que, a seu turno, “pescou” a priori esse gênero em um reduto restrito e o ampliou para o público geral, fomentando algo que estava apenas latente e gerando mercado, em um ciclo vicioso. Também não afirmei em momento nenhum que toda cultura de massa é ruim, foi vc que, mais uma vez, deduziu isso, impropriamente. Se eu fizesse tal afirmação, não poderia jamais defender a ideia de que a música de massa nos anos 80 e anteriores possuía melhor qualidade que a dos anos 90 e 00. Por falar em Bourdieu, poderíamos convocar o conceito de “campo”, que ele utiliza, para tentarmos entender os valores simbólicos implícitos ao “campo musical” de cada década que citei. Seria um trabalho interessante. Quanto aos teóricos da escola alemã de Frankfurt e da Sociologia do Consumo, desafio vc a utilizá-los para fundamentar sua argumentação e não apenas citar sua existência, pois eu mesmo poderia lançar mão de suas teorias para fundamentar meu ponto de vista. Por favor, para um próximo episódio deste debate, traga conteúdo e não me refiro a conteudismo teórico (aliás, nem precisa demonstrar erudição com citações), mas conteúdo lógico e articulado, que solape os fundamentos da minha argumentação e não simplesmente que oponha suas conclusões já estabelecidas às minhas, pois, conforme a teoria da argumentação (Sérgio Navega), isso é infrutífero e nada acrescenta ao interlocutor ou ao conhecimento.

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  12. É MIB ou massa?

    http://www.youtube.com/watch?v=oLbhGYfDmQg

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